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sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

POR QUE ALAN TURING (O JOGO DA IMITAÇÃO) INFLUENCIOU SUA VIDA SEM VOCÊ SEQUER NOTAR?


Se você adora o seu laptop e filmes de ficção científica sobre inteligência artificial, deveria saber quem é Alan Turing. Não reconhecê-lo é, porém, comum. Sua fama raramente ultrapassa o ramo da ciência e preencher essa lacuna, informando o grande público sobre as conquistas de Turing e sua importância para a nossa sociedade, é a louvável tarefa do filme O jogo da imitação, estrelado por Benedict Cumberbatch e em cartaz nos cinemas.

A história do matemático, filósofo e pioneiro da computação é, ao mesmo tempo, triste e inspiradora. Ele é conhecido como o pai da ciência computacional e da inteligência artificial. Conseguiu aplicar sua visão teórica à prática, resolvendo desafios do seu tempo e, assim, diferenciando-se dos colegas. Apesar da sua mente brilhante e da grande ajuda que deu ao governo britânico para decifrar a comunicação codificada dos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial, seu renome foi ignorado quando se descobriu que Turing era homossexual, algo então considerado criminoso no país.

Leia abaixo sobre os altos e baixos da vida de Alan Turing e entenda a sua relevância ao mundo moderno:

Educação e juventude

Alan Mathison Turing nasceu em 23 de junho de 1912 na cidade de Paddigton, na Inglaterra. Sua inclinação às ciências e lógica foi notada desde cedo por seus pais e professores. Aos 15 anos, ele conseguia resolver problemas matemáticos complexos, sem sequer ter estudado cálculo. Com 16, Turing conheceu as teorias de Albert Einstein sobre a relatividade e ficou fascinado por elas ao ponto de questionar matematicamente sua elaboração.

Em 1928, o britânico conheceu Christopher Morcom, amigo por quem se sentia atraído sexualmente e que teve grande influência intelectual sobre ele. A parceria chegou ao fim em fevereiro de 1930 com a morte abrupta de Morcom, enquanto Turing graduava-se em matemática pela Universidade de Cambridge. O acontecimento levou o estudante a refletir sobre questões filosóficas como a mente humana, o espírito e sua ligação ao corpo físico.

O início da computação
Depois da faculdade, Turing tentou desenvolver um método para estimar se um determinado cálculo matemático é ou não provável. Ele concluiu que seria possível criar uma máquina automatizada, que materializasse fisicamente a lógica humana e solucionasse qualquer cálculo representado no formato de um algoritmo. Esses algoritmos seriam exibidos no formato de instruções a serem processadas de um jeito mecânico, dentro da própria máquina. Surgiam aí as primeiras visões de um computador: um sistema que, sozinho, realizaria tarefas determinadas pelo programa com o qual ele está equipado. Tal teoria foi chamada de Máquina Universal de Turing e é considerada atualmente o fundamento da ciência da computação.

retrato alan turing (Foto: Domínio público)Mas tal proposta não foi atribuída imediatamente a Turing. Ele a elaborou em 1936, enquanto, paralelamente, o cientista americano Alonzo Church publicava um trabalho parecido. Apesar de seu crédito pela originalidade ser negado na época, hoje especialistas admitem que os cálculos de Turing são muito mais diretos, intuitivos e fáceis de relacionar com a vida real que aqueles de Church, os quais se limitam a puras comprovações matemáticas. 

Quebrando o código alemão

Em novembro de 1942, Turing chegou a Nova Iorque para atuar em conjunto com o US Secret Service, organização conhecida agora como CIA. O mundo passava pela Segunda Guerra Mundial: navios americanos haviam sido naufragados pelos submarinos alemães durante missões de apoio à Europa.

Era sabido que o exército naval nazista criptografava suas mensagens por meio de uma máquina apelidada de Enigma. O código era tido como indecifrável e o governo da Inglaterra, aliada dos Estados Unidos, vinha tentando quebrá-lo, sem sucesso. Em sua viagem aos Estados Unidos, o matemático tinha ordens de investigar os cálculos feitos pela equipe de criptoanálise americana, sem revelar o quão avançados eles estavam no processo de espionagem dos nazistas.

Alan Turing era funcionário do Government Code and Cypher School (GC&CS), centro britâncio de criptoanálise, e liderava a seção responsável por quebrar tais códigos navais, chamada Hut8. Entre 1940 e 1941, ele desenvolveu uma máquina eletromecânica capaz de alcançar esse objetivo – a Bombe. Ela combinava seu conhecimento sobre o hardware do Enigma com uma estimativa de 20 caracteres plausíveis de estarem naquela mensagem. “Chutes” comuns eram descrições sobre o clima e a data do aniversário de Hitler. O resultado era como um jornal escrito pelo inimigo: os britânicos tinham acesso a todas as informações sobre as atividades diárias dos militares alemães.

A descoberta de Turing ajudou a Inglaterra a se preparar contra diversos ataques nazistas e especula-se que, por sua causa, a guerra foi encurtada em torno de dois anos, salvando milhares de vidas. Winston Churchill, então presidente da Inglaterra, chegou a dizer que Turing fez a maior contribuição à vitória da Aliança contra a Alemanha. Turing tornou-se uma celebridade entre os cientistas e foi-lhe oferecido o cargo de diretor do laboratório de computação da Universidade de Manchester.

Lá, ao final da guerra, ele se dedicou a fazer a Máquina Universal de Turing funcionar a partir de energia elétrica. Criou o Manchester Mark 1, o primeiro computador a seguir diretrizes parecidas com as dos computadores que todos usamos hoje. Esse período foi decisivo para a criação de hardwares e implementação de novas funções aritméticas.

Teste de Turing

Ainda no laboratório de Manchester, Turing inventou um teste para dimensionar a inteligência de uma máquina – chamado hoje de Teste de Turing. Ele estava curioso: se um computador pudesse pensar como nós pensamos, ele conseguiria nos enganar ao ponto de pensarmos que estamos nos comunicando com um humano, e não um protótipo? O questionamento foi publicado no trabalho Computing Machinery and Intelligence em 1950 e é a primeira reflexão sobre o conceito de inteligência artificial, ou seja, a capacidade de máquinas raciocinarem como pessoas.

O ponto de partida para desenvolver essa prova foi o jogo da imitação, uma brincadeira que Turing costumava praticar com amigos em festas e que intitula sua biografia cinematográfica. Nela, um jurado de qualquer sexo senta-se em uma sala enquanto dois participantes, um de cada gênero, ficam no cômodo ao lado. Eles enviam ao jurado bilhetes anônimos, respondendo perguntas genéricas, a partir dos quais ele precisa descobrir quem é o homem e quem é a mulher. O Teste de Turing compartilha o mesmo princípio, mas em vez de dois participantes humanos tentarem confundir o jurado, um deles é um computador. Este vence o jogo se o jurado achar que a pessoa é a máquina, mas o matemático nunca especificou se, para dar certo, ele precisa saber que existe uma máquina envolvida no desafio.

O jogo é considerado simples e eficiente em analisar a abrangência de simulações que o computador consegue fazer da natureza humana – desde a lógica e a estrutura linguística até a capacidade de aprendizado. Turing previu que no ano 2000 máquinas com aproximadamente 120 megabites de memória teriam 30% de chance de conseguir passar em um teste de cinco minutos. Ele continua sendo praticado e estudado até hoje por especialistas, que identificam alguns defeitos na sua construção – entre eles, o fato de o jogo na verdade comprovar a habilidade do computador imitar o comportamento humano, e não sua inteligência.

A condenação

Em 1952, enquanto vivia o prestígio decorrente dos seus feitos, Turing foi acusado de praticar “atos homossexuais”, considerados criminosos na Grã Bretanha naquela época. Como punição, ele pôde escolher entre permanecer dois anos preso ou ser submetido à castração química, procedimento que inibe os impulsos sexuais da pessoa conforme ela recebe injeções de estrogênio regularmente. Ele escolheu a segunda opção para poder seguir com o seu trabalho. Além da privação fisiológica, sua carreira foi duramente atingida: todos os seus privilégios de segurança, concedidos após a Segunda Guerra, foram cancelados e ele foi impedido de continuar contribuindo com atividades do governo
.
Dois anos após o início de sua punição, Turing morreu de envenenamento por cianeto. A morte é tida como suicido, mas há quem especule se não passou de um acidente causado pelo uso do elemento químico em experimentos caseiros conduzidos por ele. Seu fim trágico e queda no ostracismo tornaram-no um dos símbolos modernos da luta pela aceitação LGBT. Em 2009, uma campanha na internet exigiu um pedido de desculpas póstumo por parte do governo britânico sobre as injustiças causadas ao cientista. Naquele ano, o então- primeiro- ministro britânico, Gordon Brown, desculpou-se em nome do governo, mas seguiu a pressão pelo pedido formal, que veio a ocorrer no ano passado. A Rainha Elizabeth II ofereceu o perdão oficial de Turing em dezembro de 2013.

Referências: texto extraído totalmente do site http://epoca.globo.com/ideias/noticia/2015/01/bpor-que-alan-turing-influenciou-sua-vidab-sem-voce-sequer-notar.html

Eu tive o imenso prazer de assistir ao filme. A atuação de Benedict Cumberbatch foi fantástica e não foi a toa que ele foi indicado ao Oscar 2015 como melhor ator. Vale a pena assistir e incluir na lista dos filmes obrigatórios para quem adora histórias e biografias cinematográficas. Esse filme entrou para minha honrosa coleção.

" Às vezes são aqueles que menos esperam que fazem as coisas que ninguém imagina"

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